O CENTRO ESPÍRITA
SINOPSE:
Nesta obra
Herculano Pires utiliza toda a sua experiência como dirigente espírita para
transmitir ao leitor preciosas orientações sobre a organização do Centro
Espírita, quais atividades devem ser desenvolvidas numa casa espírita e como
devem ser conduzidas essas atividades.
Livro
importantíssimo para quem reflete sobre os rumos do Espiritismo no Brasil,
notadamente sobre as atitudes dos que querem emparelhá-lo com religiões
decadentes e superadas.
O autor
analisa, em linhas gerais, a função, significação e os serviços do Centro, a
comunidade, as raízes africanas, Deus, as almas frágeis, a disciplina, os
problemas religiosos, as curas, etc.
FUNÇÃO E SIGNIFICAÇÃO
O Centro Espírita não é templo nem laboratório – é,
para usarmos a expressão espírita de Victor Hugo: point d’opotique do movimento doutrinário, ou seja, o seu ponto
visual de convergência. Podemos figurá-lo como um espelho côncavo em que todas
as atividades doutrinárias se refletem se unem, projetando-se conjugadas no
plano social geral, espírita e não espírita.
Por isso mesmo a sua importância, como síntese
natural da dialética espírita, é fundamental para o desenvolvimento seguro da
Doutrina e suas práticas. Kardec avaliou a sua importância significativa no
plano da divulgação e da orientação dos Grupos, explicando ser preferível a
existência de vários Centros pequenos e modestos numa cidade ou num bairro, à
existência de um único Centro grande e suntuoso.
Um Centro Espírita pequeno e modesto – como na
maioria o são – atrai as pessoas realmente interessadas no conhecimento
doutrinário, cria um ambiente de fraternidade ativa em que as discriminações
sociais e culturais desaparecem no entrelaçamento de todos os seus componentes,
considerados como colaboradores necessários de uma obra única e concreta.
O ideal é o Centro funcionar em sede própria, para
maior e mais livre desenvolvimento de seus trabalhos, mas enquanto isso não for
possível, pode funcionar com eficiência numa sala cedida ou alugada, numa
garagem vazia ou mesmo numa dependência de casa familiar. As objeções contra
isso só podem valer quando se trate de casas em que existam motivos impeditivos
materiais ou morais.
Muitos Centros Espíritas surgiram do desenvolvimento
de grupos familiais, desligando-se mais tarde da residência em que formara. A
alegação de que a casa fica infestada ou coisas semelhantes é contraditada pela
experiência.
Um trabalho de amor ao próximo, feito com
sinceridade e intenções elevadas, conta com a proteção dos Espíritos
benevolentes e a própria defesa de suas boas intenções. Os Centros oriundos de
grupos familiares mostram-se mais coesos e mais abertos conservando a seiva
fraterna de sua origem. É esse o clima de que necessitam os trabalhos
doutrinários.
Organizado o Centro, com uma denominação simples e
afetiva, com o nome de um Espírito amigo ou de uma figura espírita abnegada, de
pessoa já desencarnada, preparados, aprovados em assembléia geral e registrados
em estatutos, sua função e significação estão definidas como estudo e prática
da Doutrina, divulgação e orientação dos interessados, serviço assistencial aos
espíritos sofredores e às pessoas perturbadas, sempre segundo a Codificação de
Allan Kardec.
Sem Kardec não há Espiritismo, há apenas mediunismo
desorientado, formas do sincretismo religioso afro-brasileiro, confusões
determinadas por teorias pessoais de pretensos mestres.
Dirigentes, auxiliares e frequentadores de um Centro
Espírita bem organizado sabem que a obra de Kardec é um monumento científico,
filosófico e religioso de estrutura dinâmica, não estática, mas cujo
desenvolvimento exige estudos e pesquisas do maior rigor metodológico,
realizadas com humanidade, bom-senso, respeito à Doutrina e condições culturais
superiores.
Opiniões pessoais, palpites de pessoas pretensiosas,
livros mediúnicos ou não de conteúdo mistificador, cheios de absurdos ridículos
– seja o autor quem for – não têm nenhum valor para um verdadeiro Centro
Espírita.
Cada Centro Espírita tem os seus protetores e guias
espirituais que comprovam a sua autenticidade pelos serviços prestados, pelas
manifestações oportunas e cautelosas, pela dedicação aos princípios
kardecianos. A autoridade moral e cultural dos dirigentes e dos espíritos
protetores e guias de médiuns e trabalhos decorre da integração dos mesmos na
orientação de Kardec.
O Centro que se esquece disso cai fatalmente em
situações negativas, adotando práticas anti-espíritas e enveredando pelo
caminho da traição a Kardec e ao Espírito da Verdade. As consequências dessa
falência são altamente prejudiciais a todo movimento espírita.
Não se trata de nenhum problema sobrenatural, mas
simplesmente de falta de vigilância – principalmente contra o orgulho e a
vaidade, que levam muitas pessoas a quererem evidenciar-se mais do que outras.
Isso acontece também em todos os campos da atividade humana, nos quais
encontramos cientistas pretensiosos e sistemáticos, negociantes fraudulentos,
médicos apegados às suas idéias próprias.
A pretensão humana não tem limites e cada indivíduo
pretensioso está sempre assessorado por entidades mistificadoras.
A Ciência Espírita é um organismo vivo, de natureza
conceptual, estruturada em leis psicológicas, ou seja, em princípios
espirituais e racionais. Essa estrutura é íntegra, perfeita, harmoniosa, e não
podemos violentar um só dos seus princípios sem pôr em perigo imediato todo o
seu sistema. No Centro Espírita em que essa compreensão da doutrina não se
desenvolve, na verdade não existe Espiritismo, mas apenas um vago desejo de
atingi-lo.
As raízes dessa estrutura conceptual estão no
Cristianismo, não em seu aspecto formal-igrejeiro, mas em sua existência
evangélica, definida da Codificação Kardeciana. Os evangelhos canônicos das
Igrejas Cristãs estão carregados de elementos da Era Mitológica e superstições
judaicas. São esses elementos do passado pagão-judeu que deformaram o ensino
puro de Jesus, permitindo interpretações flagrantemente contrárias ao que Jesus
ensinou e exemplificou.
No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e no
livro “A Gênese” Kardec mostrou como podemos restabelecer a pureza das raízes
evangélicas, usando a pesquisa histórica das origens cristãs, o método
analítico-positivo de estudo histórico e o método lógico comparativo dos
textos. Sem a pureza das raízes não teremos a pureza dos textos e cairemos
facilmente nas trapaças ou nas ilusões dos mistificadores encarnados e
desencarnados.
Nas primeiras comunidades cristãs, onde o culto
pneumático era praticado, manifestavam-se espíritos furiosos, defensores de
suas crenças antigas, que injuriavam o Cristo e seus adeptos. O culto
constituía a parte prática do ensino espírita de Jesus.
Na I Epístola aos Coríntios o Apóstolo Paulo dá
instruções à comunidade de Corinto sobre a realização desse culto, ensinando
até mesmo como os médiuns (então chamados profetas) deviam se comportar na
reunião. Os Espíritos se manifestavam pelos médiuns e eram doutrinados pelos
participantes do culto. Esse trecho expressivo encontra-se no tópico da
epístola que trata dos Dons Espirituais.
Não obstante, as Igrejas Cristãs deram
interpretações inadequadas e absurdas a esse trecho, como fizeram com todos os
trechos do Evangelho em que Jesus se refere à reencarnação. Incapazes de
doutrinar os espíritos mistificadores ou agressivos, que atacavam Jesus e sua
missão, os que se ligaram ao Império Romano suprimiram o culto pneumático,
alegando que as entidades que neles se manifestavam eram diabólicas.
Essa a razão porque Igrejas Cristãs repelem até hoje
o Espiritismo como prática diabólica, rejeitando as manifestações espíritas.
Num Centro Espírita bem organizado esses problemas
são estudados e ensinados, para que as pessoas interessadas no ensino real do
Cristo possam compreender o sentido do Espiritismo. Sem isso, o Centro Espírita
deixa de cumprir a sua missão na grande obra de restauração do Cristianismo em
espírito e verdade.
O que o Espiritismo busca é a verdade cristã,
cumprindo na Terra a promessa de Jesus, que através de Kardec e seu guia
Espiritual, o Espírito Superior que deu a Kardec, quando este lhe perguntou
quem era, esta resposta simples: “Para você, eu sou A Verdade”.